O estágio ainda tem o mesmo va-
lor, nos anos 2000?
Hoje, a escolha profissional ainda se
dá muito cedo. Às vezes, é influen-
ciada por pressões familiares ou pela
admiração por alguma pessoa de su-
cesso. A maioria dos jovens não tem
vivência nas áreas A, B, ou C ao de-
cidir que curso seguir. Portanto, o es-
tágio será muito importante, tanto
para confirmar a opção de carreira
quanto para definir a especialidade
pela qual o jovem temmais afinidade.
O senhor é tido como o grande res-
ponsável pela recuperação da Es-
trela. Como conseguiu esse feito?
Meu grande objetivo quando che-
guei: preparar uma empresa que es-
tava com dificuldade de fluxo de cai-
xa, perdera mercado, enfrentava con-
corrência desleal de diversos
players
que atuavam subfaturando resulta-
dos, vendendo produtos contraban-
deados e piratas. Identificamos nos-
sas fortalezas: a marca, a capacidade
de distribuir e de ter clientes no Bra-
sil; saber vender e cobrar; e deter só-
lido conhecimento sobre crianças.
Entre elas, não figurava ter ou não fá-
bricas. No cenário de mercado aber-
to, qualquer empresa pode fabricar o
que quiser em qualquer país. Com
esse panorama, fomos moldando a
companhia para ser muito mais co-
mercial do que industrial. Anos de-
pois, superadas as dificuldades, nota-
mos que, estrategicamente, seria im-
portante ter produção no Brasil. Se,
antes, fomos criticados por não ter
fechado fábricas, decidimos abrir ou-
tras, porque as coisas mudam muito
rápido no Brasil, leis, política indus-
trial, impostos, de tarifas de impor-
tação, juros. Descobrimos que flexi-
bilidade de atuação era a chave para
o nosso sucesso.
Em que regiões a Estrela está
presente?
A Estrela vende seus produtos em to-
do o território nacional, commais de
cinco mil clientes atendidos direta-
mente por nós e outros 2,5 mil pe-
quenos, atendidos por distribuidores.
Temos três plantas: Itapira/SP, Três
Pontas/MG e Ribeirópolis/SE. Re-
centemente, inauguramos uma nova
fábrica em Hernandárias, próxima a
Ciudad del Leste, no Paraguai.
OParaguai pode ser a nova China,
com a vantagem de ser vizinho do
Brasil?
Pensamos no Paraguai como alter-
nativa para substituição de impor-
tação da China. Fazemos isso por-
que, infelizmente, o que dá compe-
titividade às empresas são aspectos
mais ligados à macroeconomia. O
brinquedo pronto da China paga
35% de alíquota de importação. Já
o Paraguai, por não ter a sua zona
franca reconhecida pelo Mercosul,
criou a Lei da Maquila, que permite
importar 60% dos componentes
sem pagar nenhum imposto, desde
que se fabriquem 40% dos compo-
nentes em qualquer país do Merco-
sul. Além disso, o selo de
Feito no
Paraguai
permite comercializar o
brinquedo em toda América do Sul
com alíquota zero. É uma forma de
reconquistar esses mercados, que
havíamos perdido para os produtos
chineses.
Muitos o chamaram de camica-
se, quando montou a fábrica no
Paraguai.
O mercado de brinquedos é muito
desafiador. Não só no Brasil, mas no
mundo. Competir com a China é um
grande desafio e é preciso buscar al-
ternativas para manter a competiti-
vidade. Neste ano, a Estrela completa
80 anos e digo sempre em nossas
reuniões gerenciais: a nossa obriga-
ção é preparar a empresa para chegar
ao centenário. Para isso, temos de
buscar todas as opções possíveis
num cenário bastante difícil.
AFundaçãoAbrinq atua emtrês ei-
xos: educação, saúde e proteção à
infância e adolescência. Como se dá
a atuação emcada umdesses eixos?
No eixo da proteção, com o progra-
ma Prefeito Amigo da Criança (repli-
cado para governadores e presidente
da República), convidamos os candi-
datos a comprometer-se a, se eleito,
definir um orçamento mínimo para
ações voltadas à criança e ao adoles-
cente. Em contrapartida, oferecemos
apoio e instrumental técnico para a
implementação de boas práticas.
Também monitoramos as ações nas
esferas federal, estadual e municipal,
no que tange à proposição de leis que
possam beneficiar ou possam trazer
riscos aos direitos adquiridos pelas
crianças e adolescentes. Na área de
educação, o foco principal é a edu-
cação básica, com olhar especial às
creches. Tentamos fazer a mesma
coisa na área da saúde, sempre com
foco na primeira infância que, para
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ENTREVISTA
CARLOS TILKIAN
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Agitação | CIEE
“A aprendizagem,
ao lado da boa
vontade e do apoio
das empresas,
colabora para
minimizar a
exploração do
trabalho de
crianças e
adolescentes”