sobre o valor da aquisição de expe-
riência no setor público?
O setor público talvez seja omais rico
de aprendizado profissional, pois lida
com todas as variáveis da atuação
profissional nas condições mais ad-
versas, visto que, geralmente, há ca-
rência de recursos e restrições orça-
mentárias. Com isso, aprende-se a fa-
zer mais com menos, o que é um
grande desafio. Além disso, há uma
característica muito peculiar, já que a
sua atuação do servidor implica con-
sequências positivas, ou não, na vida
de milhões de pessoas.
Entretanto, apesar da importância
no cotidiano do cidadão, a admi-
nistração pública é objeto de cons-
tantes críticas. Como reverter essa
percepção?
A dimensão da atuação do agente pú-
blico é muito grande e desafiadora.
Não podemos confundir a ação de
maus profissionais e maus políticos
com todo o setor público. Todas as
áreas podem ter maus profissionais. É
certo que no setor público, omau pro-
fissional tem maior visibilidade, mas
não são eles que caracterizam o setor.
Analisando a história, vê-se, por
exemplo, que São Paulo deve a estru-
tura que tem hoje a grandes adminis-
tradores, como os prefeitos e gover-
nadores Mário Covas, Faria Lima,
Olavo Setúbal. Pessoas que se desta-
caram pela competência e lisura no
trato da coisa pública.
Sua trajetória envolve desafios em
diferentes setores: cultura, finan-
ças, tecnologia, planejamento, ha-
bitação e agora trânsito. Como ad-
quirir versatilidade para atuar em
áreas tão distintas?
Essa é outra característica da vida pú-
blica. Dou sempre umexemplo de ex-
periência emgestão que permite atuar
em diferentes setores: o maior presi-
dente que a IBM* já teve veio do setor
de biscoitos e promoveu uma das
maiores transformações na indústria
de tecnologia.
Como foi a experiência de CEO na
AACD.
Muito rica e interessante, por permitir
levar a uma entidade do terceiro setor
aminha experiência de gestor público.
Procurei darminha contribuição para
a profissionalização dessaONG e tra-
zê-la a um novo patamar de tecnolo-
gia, que, em minha visão, será a nova
fronteira para reabilitação das pessoas
com deficiência.
Quais os principais desafios à frente
da CET, considerando que trânsito
é uma das principais questões das
grandes cidades hoje?
Sem dúvida, o principal desafio de
um gestor de trânsito é diminuir o
número de mortes. Para isso, é ne-
cessário ter um trabalho muito sé-
rio, aplicando todos os modelos de
gestão de trânsito, de tecnologias
(sinalização horizontal, vertical e se-
mafóricas), passando pela parte de
geometria de vias, chegando, enfim
a toda a ocupação do espaço urba-
no, de forma a harmonizar todos os
modais que compõe a matriz do
trânsito de São Paulo, fazendo com
que os quesitos de segurança e sus-
tentabilidade estejam presentes em
todas as ações.
Temdadobons resultados a campa-
nha da prefeitura para despertar a
consciência dos motoristas sobre a
responsabilidade no trânsito?
Acredito que sim, pois é por meio da
educação e da informação que fare-
mos o trânsito ficar mais harmônico,
mais equilibrado e respeitoso, a fim
de que as pessoas tenham conceito
de cidadania em seus atos. É um tra-
balho de médio e longo prazos e te-
nho certeza que os resultados serão
colhidos no futuro de forma muito
satisfatória, traduzindo-se em uma
nova postura do cidadão no trânsito
de São Paulo.
E a conscientização sobre o respeito
ao pedestre?
Todo conceito de um trânsito seguro
passa primariamente pela proteção
dos mais vulneráveis. Se não tomar-
mos cuidado com o pedestre, tere-
mos uma estatística devastadora de
acidentes fatais. No ano passado, fo-
ram mais de 300 mortes de pedestre
na cidade, o que é inaceitável. Ele
10
Agitação | CIEE
“Fundamentais
para a CET, os
estagiários trazem
um novo olhar para
as atividades, com
novas perspectivas
e novas utilizações
das ferramentas
tecnológicas.”
*NE: Lou Gerstner, presidente da IBM entre os anos de 1993 a 2002, encontrou a empresa afundada em uma crise sem
precedentes. Cem dias depois da posse, anunciou que iria reduzir a dependência em computadores, focar em corte de preços e
manter a organização mais unida. Deu certo!
»
ENTREVISTA
JOÃO OCTAVIANO MACHADO NETO