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O senhor ficou contente coma es-

colha e o trabalho dos atores?

Os atores foram incríveis. Só

acompanhei o que dizia respeito à

sincronização dos movimentos no

piano, pois tudo o que é tocado

são gravações minhas. Os atores

treinaram e conseguiram, com a

ajuda de um músico profissional,

que tinha uma velocidade boa nos

dedos. Foi um trabalho excepcio-

nal. Você jura que são os atores

que estão tocando.

Com seu prestígio internacional,

o filme será lançado no exterior?

Sim, os direitos já foram comprados

por uma distribuidora internacional.

Vai ser lançado em setembro nos Es-

tados Unidos.

Na sessão especial no CIEE, a

avant première

do filme, o se-

nhor disse que a criança que o in-

terpretou (Davi Campolongo)

mostrou grande talento para mú-

sica. O Brasil desperdiça muitos

talentos?

Cada diamante na Alemanha tem

70% de chance de encontrar seu ca-

minho. De cada diamante no Brasil,

apenas 1% tem a oportunidade de

encontrar o caminho certo. Mas is-

so não é só na música. Acontece em

todos os ramos de atividade.

Existe algo que pode ser feito

para amenizar o desperdício de

talentos?

Esse é o trabalho que estou desen-

volvendo com a Fundação Bachia-

na: treinar jovens por atacado, dos

quais uma parte vai ser público, ou-

tros terão a música como

hobby

, al-

guns serão profissionais, e muito ra-

ramente encontramos um diaman-

te. Esse menino que fez meu papel

é um diamante no piano. Ele só tem

um ano de estudo, mas já tocou co-

migo em um concerto no Theatro

Municipal de São Paulo, e arrasou.

Tem talento para ser um herdeiro

do Arthur Moreira Lima, do Nelson

Freire e de mim mesmo. Já um vio-

linista de 11 anos (Guido Sant’An-

na) que também tocou comigo no

Municipal, certamente – se a famí-

lia quiser e a professora continuar

trabalhando – será o maior violinis-

ta que o Brasil já teve.

O talento vale, mas qual a im-

portância da dedicação e do es-

forço para atingir um alto nível

na música?

O resultado de uma carreira vito-

riosa, de cumprir sua missão e pro-

jetar o nome do Brasil no exterior,

depende do dom de Deus, que é de

2%; já 98% são transpiração e disci-

plina. Sem o dom de Deus não se

chega lá, mas sem disciplina e esfor-

ço também não.

Foi a preocupação com a desco-

berta e formação de novos talen-

tos que o aproximou do CIEE?

Quando eu não podia mais tocar

piano, comecei uma nova profissão

aos 64 anos. Mas para começar re-

gência, tinha de começar com jo-

vens, porque também estava apren-

dendo. Vamos fazer uma compara-

ção com o caso do Rogério Ceni (ex-

goleiro que virou técnico no São Pau-

lo

). Ele quis começar por cima, deu

no que deu. Tinha de começar com

jovens de 14, 15, 16 anos. A aproxi-

mação com o CIEE surgiu porque

esses jovens acabaram sendo os pri-

meiros estagiários na história do

Brasil em música.

OCIEE foi importante, então, pa-

ra a formação da Orquestra Ba-

chiana Jovem?

Sim, sem dúvida. Aí conforme foram

crescendo, os estagiários tornaram-

se profissionais e juntaram-se aos

melhores músicos do Brasil, forman-

do a Bachiana Filarmônica e depois,

com o patrocínio do Sesi, passou a se

chamar Orquestra Bachiana Filar-

mônica Sesi-São Paulo.

Qual a importância atual da Ba-

chiana no contexto musical bra-

sileiro?

Hoje é a principal orquestra da ini-

ciativa privada na América Latina e

está colocada entre as quatro melho-

res orquestras no Brasil, o que me dá

um orgulho muito grande.

Apontado como um dos maiores

exemplos de resiliência, de onde

lhe veio a força para continuar seu

caminhonamúsica comomaestro?

Veio do meu pai. Ele teve um câncer

com 37 anos. Tiraram três quartos

do estômago dele e lhe deram seis

meses de vida. No entanto, ele mor-

reu só aos 102 anos. E de acidente!

Esse tipo de determinação ele passou

para todos os filhos.

Já é um sinal que vamos ter o

maestro nos palcos por muito

tempo ainda.

A gente nunca sabe se um filme vai

ser sucesso ou não, porque depende

muito do público. Mas eu brinco que

a única coisa que faria o filme se

transformar no maior sucesso de bi-

lheteria do país seria se eu morresse

antes de ser lançado (

risos

).

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Agitação | CIEE

»

ENTREVISTA

JOÃO CARLOS MARTINS