CIEE | Agitação
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Divulgação
Como surgiu a ideia de um filme
sobre sua vida?
A ideia partiu da lenda do jazz David
Brubeck – umdos cincomaiores jaz-
zistas da história e o primeiromúsico
a ser capa da Revista Time, em 1950.
Um dos últimos concertos que Bru-
beck deu em vida foi comigo, no Lin-
coln Center, em Nova York. Ele co-
meçou, então, a discutir a ideia com
o cineasta e ator Clint Eastwood. De-
pois de assistir a um concerto meu, o
diretor Bruno Barreto falou: ‘João,
pode ser até o Spielberg. Esqueça que
um filme com a sua história pode ser
feito no exterior. Não vai dar liga.
Tem de ser feito no Brasil. E se for
um orçamento americano no Brasil,
a Ancine (
Agência Nacional de Cine-
ma
) não aprova.’ Então mandei uma
carta para o Brubeck, agradecendo
os esforços dele, mas que não estava
pensando em filme. E, se houvesse
um filme, seria rodado no Brasil.
O clã dos Barretos, responsáveis
por inúmeros sucessos, interes-
sou-se pela história?
Sim, mas como Bruno Barreto é um
grande cineasta, mesmo baseando-
se na minha história, poderíamos
não chegar a um acordo quanto ao
roteiro. Então, conversamos com o
pai, Luís Carlos Barreto, o
Barretão
,
e chegamos à conclusão de que a
própria Produções Barreto poderia
escolher outro diretor para o filme.
Barretão, com a Lucy Barreto, op-
taou pelo cineasta Mauro Lima, di-
retor de sucessos como
Meu nome
não é Johnny
e
TimMaia
. Ele teve to-
da a liberdade para escolher o elenco.
O senhor acompanhou o processo
da produção e filmagem?
Quando li o roteiro, vi que se apro-
ximava muito de realidade – claro
que há a parte da dramaturgia com
as ideias do diretor – mas eu não
queria uma biografia. Só tinha uma
exigência: que a parte musical deve-
ria ser 100% o que aconteceu na mi-
nha vida. Quanto à dramaturgia, ele
teria toda liberdade. E funcionou.
Fiquei contente com o roteiro e com
a direção do Mauro Lima.
É dif ícil ver sua história na tela,
sob outro olhar?
Como queria que a partemusical fos-
se
ipsis literis
com o que aconteceu,
pedi que consultassem jornais de épo-
ca na Alemanha, Estados Unidos,
Portugal, França, para ver que o que
eu falava era a verdade. Apesquisa de-
morou um ano. Mauro quis mostrar
minha obstinação pelo piano. Apesar
de eu ter tido separações, fui um pai
muito presente, mas o filme dá a ideia
de pai ausente. No filme praticamente
não aparece nenhum filho, mas eu te-
nho quatro. Ele disse que não dava pa-
ra desenvolver todos os personagens,
senão seria um filme de cinco horas.
Apesar disso, deve virar minissérie da
Globo no ano que vem.