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Isso não vai acontecer. No entan-

to, uma de suas grandes paixões

vai de mal a pior: a Portuguesa

de Desportos (eliminada na 1ª

fase da 4ª divisão do Campeona-

to Brasileiro). Sua história de re-

siliência pode servir de inspira-

ção à Lusa?

Para você ter ideia, tentei ajudar.

Quando a Portuguesa estava para

cair da série A, falei: onde eu esti-

ver, antes dos jogos principais, vou

fazer uma palestra para os jogado-

res. A Portuguesa acabou em 15º

lugar, permanecendo na série A.

Durante um concerto em Nova

York soube que os jogadores leva-

ram uma faixa para o campo dizen-

do que eu era uma inspiração para

eles. Foi muito comovente. Aí, no

dia seguinte, fiquei sabendo de uma

negociata interna no clube. Foi uma

das maiores desilusões da minha

vida. Foi o começo do fim.

Foi surpresa um brasileiro emo-

cionar plateias do mundo inteiro

como um dos maiores intérpre-

tes de Bach?

No começo havia certo estranha-

mento, mas o público que gosta da

boa música queria ver a individua-

lidade do intérprete. Se você tiver

uma individualidade em que impera

o bom gosto, não há problema. O

importante é estar na hora certa e

no lugar certo. Eu sempre digo que

a música venceu.

Como foi subir de novo no palco

do Carnegie Hall, em Nova York,

dessa vez como maestro da Or-

questra Filarmônica?

Foi uma das quatro maiores emo-

ções da minha vida. Quando es-

treei lá; quando voltei após o aci-

dente no futebol; quando voltei de-

pois do assalto da Bulgária; e quan-

do retornei como maestro.

Sendo um dos maiores incentiva-

dores da boa música no Brasil,

acredita que falta formaçãomusi-

cal nas escolas?

Claro. No tempo do Villa-Lobos

(1887-1959) ele conseguiu. Agora es-

tá voltando aos poucos, como um

primo pobre. Comnosso trabalho de

formiguinha, vamos acabar realizan-

do o sonho de Villa Lobos, de popu-

larizar a música nas escolas.

Com tanto talento para música,

por que nunca se dedicou à arte

da composição?

Não tenho talento para isso. Você

tem de saber o que consegue fazer e

suas limitações. Só fiz uma música,

quando me pediram, mas só uma

vez. Não era a minha praia.

O que o compositor Johann Se-

bastian Bach significa na sua vida?

Ele foi o único computador com al-

ma que existiu. Bill Gates (

proprietá-

rio daMicrosoft

) pode lutar até o fim

da vida, mas não vai conseguir fazer

um computador com alma. Bach foi

a síntese de tudo o que aconteceu na

música e a profecia de tudo o que

aconteceu depois dele.

Como vê a importância do está-

gio e da aprendizagem para nos-

sos jovens?

O estágio é o futuro do Brasil. O que

o CIEE realiza é uma das poucas coi-

sas que fazem a gente acreditar no fu-

turo de um Brasil melhor. O estágio é

o primeiro passo. Ninguém consegue

começar pelo segundo degrau. Tem

de passar pelo primeiro. E o estágio é

o primeiro degrau da vida profissional.

A produtora Paula Barreto (

do

filme João, o Maestro

) diz que o

senhor é um herói nacional e

um exemplo para todos. Em sua

opinião, qual a lição que os jo-

vens podem aprender com a sua

história de vida?

Não sou nenhumherói nacional. Sou

uma pessoa que teve erros e acertos

na vida. O importante é que, em sua

trajetória, você corrija os erros e apri-

more os acertos, para quando chegar

à maturidade só sobrar a parte dos

acertos. Todo ser humano tem o di-

reito tentar e de errar. Agora, se per-

sistir no erro, aquela pessoa não está

contribuindo emnada. Ao contrário,

está prejudicando, individualmente,

o papel dele na sociedade. Tenho

mais respeito por aqueles que corri-

gem seus erros, porque procuram

mudar radicalmente e fazer, de cada

dia da vida, um exemplo para outras

pessoas. É isso procuro fazer da mi-

nha vida.

CIEE | Agitação

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“Não sou nenhum herói

nacional. Sou uma pessoa que

teve erros e acertos na vida.

O importante é que, em sua

trajetória, você corrija os erros

e aprimore os acertos,

para quando chegar à

maturidade só sobrar a parte

dos acertos.”