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Agitação

nov/dez 2008

“A Previdência

funciona como

um pacto entre

gerações, com

os trabalhadores

ativos custeando

os benefícios dos

aposentados”

média. Eu tenho 14 irmãos e três filhos.

Isso terá reflexos futuros.

Agitação –

Por causa desse impacto, o

que vai mudar?

Pimentel –

A Previdência Social está aten-

ta a isso e se prepara para discutir com

a sociedade as alternativas para garantir

a sustentabilidade do sistema para as

gerações que vão se aposentar a partir

de 2050. Até lá, se a economia continuar

crescendo no mínimo 4% ao ano, a for-

malização do emprego continuar no ritmo

atual e aprimorarmos a gestão, as regras

serão mantidas.

Agitação –

A situação da Previdência So-

cial interfere no valor pago pelos profissio-

nais. Se há déficit, há interferência no valor

arrecadado. Entretanto, o primeiro semes-

tre de 2008 indicou queda de 17,5%.

Quais as conseqüências dessa redução?

Pimentel –

Para se ter uma idéia, de janeiro

a julho de 2008, a arrecadação líquida atin-

giu o montante de 88,6 bilhões de reais, o

que corresponde a um aumento de 10,2%

em relação aos 80,3 bilhões de reais ar-

recadados no mesmo período de 2007. O

aumento é resultado do crescimento eco-

nômico, do maior número de carteiras de

trabalho assinadas e do ganho real dos sa-

lários. Paralelamente, a melhora da gestão

dos benefícios previdenciários, promovida

pelo ministério, está sendo determinante

para a redução das despesas mensais.

Quer dizer, estamos arrecadando mais e

pagando menos. A soma desses fatores

tem garantido as condições para que a

Previdência Social consolide sua trajetória

superavitária. Essa tendência de queda do

déficit está clara para nós, e as projeções

indicam que, ao final do ano, a necessida-

de de financiamento do Regime Geral de

Previdência Social será de, no máximo, 38

bilhões de reais, contra uma previsão de

43 bilhões de reais.

Agitação –

O que o governo está fazen-

do para aumentar o número de contri-

buintes e, assim, diminuir o déficit? O

projeto de lei que regulamenta a ativi-

dade do microempreendedor individual

insere-se nesse processo?

Pimentel –

A aprovação desse projeto é

um importante passo para reduzir a infor-

malidade no país e ampliar a inclusão pre-

videnciária, ou seja, aumentaremos o nú-

mero de pessoas com direito a benefícios

e também o de contribuintes. Segundo o

IBGE, cerca de 10 milhões de microem-

preendedores terão oportunidade de se

formalizar e ter direito aos benefícios da

Previdência Social.

O Simples Federal foi criado em 1996 e vi-

gorou por 11 anos. Nesse período, tivemos

1,337 milhão de empresas formalizadas.

O governo federal e o Congresso Nacional

modificaram essa legislação, criando o

Simples Nacional [Regime Especial Unifi-

cado de Arrecadação de Tributos e Con-

tribuições devidos pelas Microempresas

e Empresas de Pequeno Porte, em 2006].

Em dez meses, registramos 3,2 milhões

de micro e pequenas empresas formaliza-

das. Agora, estamos dando um segundo

passo: a figura do microempreendedor in-

dividual. Quem são eles? São os feirantes,

os camelôs, os sacoleiros, os pipoqueiros,

os borracheiros, as manicuras e os cabe-

leireiros. Os pequenos negócios, aqueles

que têm faturamento anual de até 36 mil

reais, serão isentos de todos os tributos

federais, como o Imposto de Renda Pes-

soa Jurídica, a Contribuição Sobre o Lucro

Líquido e o Imposto de Produtos Industria-

lizados (IPI), pagando apenas a contribui-

ção previdenciária.

Agitação –

Como isso vai funcionar para

o profissional?

Pimentel –

Ele será constituído como pes-

soa jurídica, com o cadastro nacional, e

pagará 11% sobre o salário mínimo. Esse

recolhimento irádestinar-seaosseusbene-

fícios previdenciários. Os únicos encargos

são os impostos estaduais e municipais,

que serão simbólicos. Os que têm que

recolher ICMS [Imposto sobre Circulação

de Mercadorias e Serviços] pagarão mais

um real e a contribuição total, em valores

atuais, será de 46,65 reais. Os que têm

que recolher ISS [Imposto sobre Serviço],

pagarão mais cinco reais, totalizando con-

tribuição de 50,65 reais.

Agitação –

Mas em muitos setores ainda

há forte atuação sem carteiras assinadas.

Os profissionais rurais são um exemplo.

E esse ramo também está crescendo, o

que vai resultar em um aumento do nú-

mero de trabalhadores. Esse crescimento

interfere em algo ou haverá um programa

especial?

Pimentel –

A Constituição de 1988 definiu

que os trabalhadores rurais deveriam ter

cobertura previdenciária e, também, que a

fonte de recursos para essa despesa seria

o orçamento da Seguridade Social. A par-

tir daí, os trabalhadores rurais passaram

a ter sua previdência subsidiada, assim

como ocorre no mundo inteiro. O obje-

tivo dessas regras é garantir a proteção

social ao pequeno agricultor, aquele que

é responsável pela produção dos alimen-

tos que consumimos diariamente. Esse

tratamento é correto e justo. O que ocorre

é que a contabilidade do Regime Geral de

Previdência Social registra o pagamento

desses benefícios como se fosse déficit,

o que não é verdade. Há déficit quando o

regime é contributivo e a arrecadação é

insuficiente para o pagamento das despe-

sas. No caso da área rural, há uma neces-

sidade de financiamento porque esse setor