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Uma vitória frágil.
Em julho, os alemães foram, final-
mente, derrotados na Batalha do Marne. A linha Hindenburg
foi ultrapassada. A Itália empurrava os austríacos, e Bulgária e
Turquia se rendiam. As derrotas alemãs se sucediam na França
e na Bélgica. O conflito chegara próximo do fim. O presidente
Wilson, dos Estados Unidos, propôs 14 pontos para a paz na
Europa. Entre eles, estava a liberdade dos mares à navegação in-
ternacional; desarmamento em geral; divisão das colônias equi-
tativamente; evacuação do território russo e da Bélgica; retifica-
ção de fronteiras na Itália; restauração da Polônia com saída para
omar. Os generais alemães pressionaramo kaiser a aceitar a paz.
Mas Wilson negava-se a negociar com um déspota. Guilherme
II, então, foi deposto e a república instalada, chegando ao fim
o II Reich e abrindo caminho para o III Reich, de Adolf Hitler.
As consequências da paz levaram à derrocada da economia
dos países vencidos e ao acirramento de sentimentos revan-
chistas na Europa, num processo que culminaria na II Guerra.
Cultural
Máquinas de guerra.
Com a força e a precisão
dos novos armamentos, a Alemanha acreditava emuma
guerra-relâmpago. O plano era derrotar rapidamente a
França na frente ocidental para se dedicar à destruição
do exército russo, na frente oriental. O projeto inicial
começou bem sucedido com a invasão da Bélgica, mas
o avanço em território francês foi detido às margens do
rio Marne, a algumas dezenas de quilômetros de Paris,
seis semanas depois de declarada a guerra. O exército
alemão chegou a recuar um pouco, mas nos três anos e
meio que se seguiram não houve mudanças significati-
vas na posição.
Essa foi uma das principais características do con-
flito: a guerra das trincheiras, que o historiador inglês
Eric Hobsbawn chamou de máquina de massacres sem
precedentes. “Milhões de homens ficavam uns diante
dos outros, nos parapeitos de trincheiras barricadas
com sacos de areia, sob as quais viviam como – e com
– ratos e piolhos”, conta Hobsbawn na obra
A era dos
extremos
(1994). Quando um grupo saía das trinchei-
ras para tentar avançar sobre o adversário era alvejado
por balas e bombas de todos os lados. Numa das bata-
lhas mais famosas, a de Verdun (fevereiro a dezembro
de 1916), o enfrentamento entre os exércitos francês
e alemão envolveu dois milhões de homens, com um
milhão de baixas. A ofensiva dos britânicos contra os
alemães, na Batalha do Somme, custou 420 mil mortos
à Grã-Bretanha, 60 mil apenas no primeiro dia de luta.
Um quarto dos alunos de Oxford e Cambridge, duas
das mais renomadas universidades do mundo, perdeu
a vida na guerra, servindo o exército britânico comme-
nos de 25 anos de idade.
Enquanto as forças da Tríplice Aliança não conse-
guiam avanços significativos na frente ocidental, do
lado oriental a situação era outra, com a derrota do
exército russo, empurrado para os limites da Polônia.
Essa foi uma das causas da grave crise interna que de-
sembocou na retirada da Rússia da guerra e no trata-
do Brest-Litowsky, assinado logo após a Revolução
Bolchevique de 1917, que derrubou o czar. AAlemanha
podia, finalmente, voltar-se para uma só frente.
No alvorecer de 1918, a Tríplice Aliança sustentava
uma situação favorável de Berlim a Constantinopla. A
Inglaterra e a França começavam a alimentar um sen-
timento derrotista, com o desgaste exacerbado de seus
exércitos. No entanto, a entrada dos Estados Unidos na
guerra – após ter navios de suprimentos para os aliados
bombardeados por submarinhos alemães –, alterou a
relação de forças: a chegada na Europa de ummilhão de
soldados americanos – munidos de armas, munições e
alimentos – fez a balança pender para o lado da Entente.
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