S
e todos os atuais refugia-
dos do planeta fossem
agrupados, formariam
uma comunidade com
cerca de 60 milhões de
pessoas. Tecnicamente, refugiados
são seres humanos submetidos a
deslocamentos forçados de seus paí-
ses, tangidos por algum tipo avassa-
lador de catástrofe, em geral fome e
guerra. Ou ambas. É possível que
agora a quantidade seja maior, pois
os números pertencem ao ultimo re-
latório do Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados
(Acnur), verificado em 2015.
Um campo de refugiados não é
algo agradável de ver. Em geral, exibe
uma infinidade de barracas improvi-
sadas em plástico preto, em cujo ar-
ruamento irregular perambulam
crianças e jovens que compõem qua-
se metade daquela população flu-
tuante, segundo informa o levanta-
mento. As barracas isoladas do corpo
principal são as fossas negras, cavadas
às pressas para substituir instalações
sanitárias ou simulacros de chuveiros.
Habitualmente, umcampo desse tipo
é cercado por caminhões da própria
ONUou da Cruz Vermelha, demodo
a oferecer uma duvidosa sensação de
privacidade e proteção.
Até recentemente, restava o
consolo de que tais concentrações
eram provisórias na medida em que
sua população fosse encaminhada
para destinos dignos. Nos últimos
cinco anos, essa ordem foi alterada
pelo impressionante aumento de re-
fugiados provenientes de 15 confli-
tos sérios e simultâneos que tumul-
tuam o planeta. “O fenômeno é su-
perior a tudo o que aconteceu até
agora”, disse o português Antonio
Guterres, então responsável pelo
Acnur e hoje secretário-geral das
Nações Unidas. Infelizmente, o re-
latório mencionado acima aponta
uma perturbadora tendência de au-
mento. Um ano antes, em 2014, os
refugiados somavam 42,5 milhões.
A entidade ainda informa no seu
documento que, em 2015, a cada
minuto 24 pessoas tiveram desloca-
mento forçado contra apenas seis,
na última medição, no ano de 2005.
A julgar pelas suas posições re-
lativas à imigração nos Estados Uni-
dos, o presidente eleito Donald
Trump vai deitar abundante com-
bustível nessa fogueira humanitária
com as anunciadas e severas restri-
ções à chegada de estrangeiros no
país, refugiados ou não. Acresce que
procedimentos americanos, bons
REFUGIADOS,
ESPERANDO
MR. TRUMP
Presidente do Conselho de
Administração do CIEE/SP,
do Conselho Diretor do CIEE
Nacional e da Academia
Paulista de História.
»
ANÁLISE
LUIZ GONZAGA BERTELLI
Servfoto
O Brasil não
tem experiência
para lidar
eficientemente
com refugiados
e imigrantes em
situação de
emergência.
AS ANUNCIADAS RESTRIÇÕES À ENTRADA
DE ESTRANGEIROS NOS ESTADOS UNIDOS
DEVEM AGRAVAR A SITUAÇÃO DOS MILHÕES
QUE FOGEM DE GUERRAS E DITADURAS.
32
Agitação | CIEE