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crescimento de São Paulo, como café

e com o início do processo industrial,

foi frenético. O nome da associação

não vemdo comércio. Vemde direito

comercial, que abrange todas as ativi-

dades mercantis: indústria, comércio,

serviços, profissionais liberais... Como

não existia nenhuma outra entidade

empresarial, a ACSP tinha uma gran-

de influência. Quando o presidente

Getúlio Vargas quis dar o golpe, São

Paulo fez a revolução de 1932, e a in-

tendência foi instalada dentro da

ACSP. Toda atividademercantil estava

representada lá. Quando São Paulo

perdeu a revolução, Vargas resolveu

diminuir a força da entidade, retalhan-

do a representação. Pegou o modelo

italiano, deMussolini, e adaptou aqui.

Criou, então, os sindicatos dos traba-

lhadores e os patronais da indústria. E

deu uma graninha para todo mundo:

o imposto sindical. Com isso, ele con-

trolou o sistema.

Qual a importância das Associa-

ções Comerciais hoje?

São 420 associações comerciais no es-

tado de São Paulo e 2,2 mil no Brasil.

A entidade tem uma característica

que difere de outras. Primeiro, ela se

autossustenta. Segundo, é municipal.

Quem é do interior sabe: ela participa

da vida da cidade, lá estão sempre o

pessoal do Rotary, do Lions, daMaço-

naria, das entidades assistenciais, os

advogados, os contadores e os peque-

nos industriais, porque o grande não

precisa de representação, pois fala di-

retamente comseu deputado. Já o pe-

queno não tem para quem reclamar,

precisa de representantes.

Qual foi seu principal desafio à

frente da ACSP?

Foi fazer a desmutualização do Servi-

ço de Proteção ao Crédito (SPC), que

nasceu na associação há 70 anos. Era

uma empresa dentro de uma entida-

de. Tivemos que transformá-la emum

negócio. A ACSP continua com o

controle acionário. E isso teve reflexos

na cultura da entidade e na sua forma

de gestão. Essa separação foi traumá-

tica, mas necessária para a sobrevi-

vência. Foi um processo difícil.

Com toda a experiência na ACSP e

na direção da holding Springer,

nunca quis se candidatar a um car-

go político?

Tive uma experiência como secretá-

rio de Estado da Assistência e Desen-

volvimento Social, em São Paulo, no

governo de José Serra. Resolvi en-

frentar para entender melhor a admi-

nistração pública. Notei que o Estado

de São Paulo tem um nível de profis-

sionais melhor do que a iniciativa pri-

vada. O governo funciona porque

temgente domais alto nível, vocacio-

nada. Há uma gama enorme de pro-

jetos estruturados, prontos, bem fei-

tos. Na iniciativa privada, você vai até

onde a lei permite, mas é você quem

determina. No serviço público, você

só faz o que a lei determina. É uma di-

ferença cavalar.

O senhor pode exemplificar isso?

Quando cheguei, a secretaria tinha oi-

to níveis hierárquicos. Então eu falei:

‘vamos mudar isso, diminuindo para

quatro’. Aí me disseram: ‘O senhor

tem de fazer um projeto e tentar ven-

der na Assembleia Legislativa’, o que

duraria uns quatro ou cinco anos,

mais oumenos. E temrazão de ser, se-

não cada umque entra lá resolve mu-

dar tudo. Mas, ao mesmo tempo, é

um limitador muito grande. Nos pri-

meiros dias, conheci também a

lei da

besta

(8.666/1993), como é conhecida

entre os servidores a Lei das Licita-

ções. Logo que cheguei fui tomar um

café, mas simplesmente não dava para

engolir de tão ruim. Perguntei, o que

era aquilo. E me falaram: ‘É a

lei da

besta

’. Isso significa que o governo é

obrigado a comprar pelo preço mais

barato. Então, compra porcaria, sa-

bendo que está comprando porcaria.

Não conseguia conviver com isso. Aí

tivemos de fazer um projeto, um ca-

lhamaço enorme, para especificar a

qualidademínima do café que a secre-

taria compraria.

O senhor viu pontos positivos na

gestão pública?

Ah, sim. Vi coisas maravilhosas. Logo

que eu assumi, houve um problema

emParaisópolis (comunidade da zona

sul de São Paulo). Ogovernador Serra

me convocou na sexta-feira para uma

reunião no fimda tarde. Fui para lá de

calça jeans e tudo e, quando cheguei,

lá estavam todos os secretários. Espe-

ramos por uma hora, quando o gover-

nador chegou e já foi dizendo: ‘preci-

samos resolver umproblema, uma in-

tervenção em Paraisópolis, e o encar-

regado de fazer vai ser o Rogério.’ Você

sai de lá e pensa: e agora?

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ENTREVISTA

ROGÉRIO AMATO

10

Agitação | CIEE

“Na iniciativa

privada, você vai

até onde a lei

permite; no

serviço público,

você só faz o

que a lei

determina. É

uma diferença

cavalar”