E o que o senhor fez?
Juntamos profissionais de várias se-
cretarias e fizemos centenas de coi-
sas lá. E não era nada com grana.
Por exemplo. Tínhamos de cons-
truir uma AMA (Atendimento Mé-
dico Ambulatorial). Quando a Pe-
trobrás constrói a estrutura de uma
obra, tem de montar uma AMA.
Então, conversamos com o pessoal
de lá e a estrutura veio toda pronta,
era só montar. Emmenos de 90 dias
já estava funcionando. Esse tipo de
ação pode ser feita com mais fre-
quência. Mas a demanda é insaciá-
vel. Na época da inauguração da
AMA, todo mundo elogiou. Mas 15
dias depois, já estavam fazendo re-
portagens sobre filas que dobravam
a esquina. Com razão, porque agora
os moradores tinham aonde ir perto
de casa.
Foi uma experiência enriquece-
dora?
Sem dúvida, mas tem o lado triste
da história. Quando cheguei me
falaram: ‘o dinheiro que o senhor
receber aqui, põe numa caderneta
de poupança para depois pagar o
advogado’. O estado de São Paulo
tem 645 municípios e é preciso fa-
zer convênio com todos, obrigato-
riamente. Para consertar um telha-
do, a secretaria manda um profis-
sional para analisar o problema e
autoriza o conserto. Seis anos de-
pois, vem o Tribunal de Contas.
Tive oito processos assim. O siste-
ma é muito dif ícil.
O senhor vê solução para crise
atual?
Vejo que o presidente Michel Te-
mer é o cara certo no lugar certo.
Professor de direito constitucional.
E o Brasil tem de seguir pelo cami-
nho da lei. Ele conhece a turma toda
do Congresso, foi presidente da Câ-
mara por três vezes. Entende as re-
gras do jogo. Mas houve uma detur-
pação muito grande nesse toma lá
da cá. No mundo, as coisas também
são assim, mas aqui exageraram, e
quando estourou o
mensalão
foi tu-
do ladeira abaixo. Reverter essa his-
tória, na velocidade com que está
sendo feito, não é brincadeira. Se a
PEC do teto dos gastos públicos fos-
se há dez anos, estaríamos hoje
crescendo de 8% a 10% ao ano!
Mas, se se passa a ganhar menos,
tem de cortar despesas e não gastar
mais. Por isso, vejo boa possibilida-
de de uma reversão em todos os
sentidos, mas não sem sofrimento.
Diante desse quadro, o senhor ain-
da tem um discurso otimista para
nossos jovens?
O mercado de trabalho tradicional
está em um momento de forte mu-
dança. Está chegando uma geração
com outra visão. Se você entrar na
empresa Google, você enlouquece!
Vai ver funcionários deitados em re-
de, de chinelos, mas trabalhando...
Nessa mudança vejo possibilidades
tremendas. Algo que explodiu nos
últimos dois anos, e é um exemplo
disso é o tal do
coworking
, um lugar
com infraestrutura compartilhada
para desenvolvimento de projetos. É
uma geração preocupada com a
qualidade de vida. E não são vaga-
bundos, querem trabalhar!
Como as empresas vão enfrentar
essas mudanças? Ou já estão en-
frentando?
Estão enfrentando, sim. Já há casos
em que não se trabalha mais na sex-
ta-feira. Na verdade, eles não se
deslocam para o trabalho – porque
há serviços que, se quiser fazer em
casa ou na praia, é um problema do
profissional, desde que na segunda-
feira esteja pronto na mesa do chefe.
Essa mudança está muito mais rá-
pida do que as que ocorreram no
passado. Isso não é modismo. Se o
empresário não tiver essa sensibili-
dade, que produto vai vender para
essa pessoa? Outro exemplo: terno
hoje? Faz sentido uma fábrica com
calor excessivo, cheia de gente de
terno e gravata? Tenha paciência!
As profissões tradicionais, como em
bancos ou na própria indústria,
também estão sofrendo mudanças
radicais. Um terço da área da indús-
tria era ocupado pela parte mecâni-
ca. As máquinas eram feitas no pró-
prio pátio. Hoje, é burrice fazer isso,
até do ponto de vista ecológico.
Os empresários estão preocupados
com a sustentabilidade?
Claro, a pressão pela sustentabilida-
de está criando um paradigma no-
vo. Não se consegue mais subverter
esse tipo de postura. O lucro a qual-
quer preço é muito caro. O lucro a
qualquer preço não dá lucro.
Cláudio Barreto
CIEE | Agitação
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