carente de mão de obra qualificada.
Na indústria tambémhá déficit. Essas
medidas também poderão beneficiar
os jovens com mais perspectivas de
continuidade e efetivação nessas
áreas do conhecimento após o ciclo
da aprendizagem.
As contratações de aprendizes se
devem a uma questão mais de
fiscalização do que de conscien-
tização?
A fiscalização e a sensibilização têm
que caminhar o tempo inteiro de
mãos dadas. A fiscalização é funda-
mental, até porque o instituto da
aprendizagem é considerado a maior
e mais adequada ferramenta para a
redução do trabalho infantil. Ou seja,
os auditores do Trabalho têm papel
fundamental na manutenção e cres-
cimento da Lei da Aprendizagem. Em
paralelo a esse trabalho, há a sensibi-
lização, de criação de políticas públi-
cas de direcionamento, enfimde con-
vencimento, para que as empresas
contratem aprendizes.
Quais têm sido as saídas para em-
presas que dizem não encontrar
ambiente interno para inserir
aprendizes?
Alguns setores são mais complexos
quanto ao cumprimento das cotas da
aprendizagem. Mas já temos soluções
previstas em portarias, por exemplo,
as chamadas cotas sociais, que permi-
tem que a empresa possa fazer da
aprendizagem um programa de im-
pacto social. Isto é, possibilita que o
jovem inserido naquele contexto não
tenha de fazer a capacitação prática
no ambiente da empresa, mas, sim,
em outro órgão, instituição ou proje-
to, como uma biblioteca ou um cen-
tro cultural, entre outros exemplos.
Um exemplo recente foi a atuação
de aprendizes naOlimpíada. Como
foi essa experiência?
Essa experiência permitiu a um gru-
po de empresas de asseio e conserva-
ção, que não poderiam ter esses jo-
vens no seu ambiente de trabalho por
ser considerado pouco atrativo e cer-
ta forma insalubre, contratar apren-
dizes e direcionar seu desenvolvi-
mento prático no âmbito da Olim-
píada e da Paralimpíada
.
Com isso,
cerca de 500 jovens receberam qua-
lificação profissional voltada para o
desporto. No futuro, eles poderão
atuar em arenas esportivas, secreta-
rias de esporte ou até mesmo em
clubes. Experiência exitosa e nos faz
querer replicá-la para outras unida-
des da federação respeitando as pe-
culiaridades de cada região.
O programa Aprendiz Legal gerou
uma movimentação de 242 mi-
lhões de reais emsalários pagos aos
jovens em formação profissional,
no primeiro semestre do ano pas-
sado, segundo levantamento do
CIEE. Como o senhor avalia o im-
pacto dessa renda no orçamento
das famílias e na dinamização eco-
nômica dosmunicípios onde vivem
os aprendizes?
Esse número merece a nossa atenção
e nos incentiva a buscar maior
abrangência da aprendizagem, que
não impacta só financeiramente na
economia, mas também tem um im-
pacto social importante. Ela estimula
a autoestima do jovem, que passa a
ter consciência que é capaz, deixa de
ser um custo dentro de casa, para ser
alguém que colabora com a estrutu-
ra familiar. Passa a ser referência na
comunidade onde vive e exemplo
para estimular outros jovens a seguir
o mesmo caminho. Esse dado que
você traz é muito importante porque
ele mensura não só o que foi pago
aos aprendizes. A aprendizagem ge-
ra muito mais do que isso, pois en-
volve instrutores, profissionais do
acompanhamento pedagógico, psi-
copedagógico, enfim, o impacto é
muito relevante.
Sem contar que a formação da
aprendizagem também pode
afastar o jovem da criminalida-
de, uma vez que oferece uma no-
va perspectiva?
Um jovem sob a custódia do Esta-
do hoje custa aproximadamente 8
mil reais/mês, o que perfaz 96 mil
reais/ano. Na aprendizagem, que é
uma alternativa plausível à crimi-
nalidade, temos o retorno do im-
pacto social, giro econômico e,
ainda, o retorno para o Estado em
forma de tributo de cerca de 2,4
mil reais/ano. Se falarmos da
aprendizagem só sob a perspectiva
econômica, sem outros aspectos,
essa análise por si só indica que es-
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ENTREVISTA
HIGINO BRITO VIEIRA
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Agitação | CIEE