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O agravamento da crise econômica

intensificou o nível de desemprego

no Brasil, principalmente entre os

mais jovens, com um em cada qua-

tro brasileiros com menos de 25

anos desempregado. Qual sua ava-

liação desse cenário?

Estamos num período em que toda

produção de artigos e pesquisas cien-

tíficas tem recorte de 2004 a 2014. De

2015 para cá o Brasil caiu na crise na

qual nos encontramos. Estamos tra-

balhando num cenário jamais visto

antes, mas com plena consciência da

vulnerabilidade com que o jovem se

insere nesse contexto. Quando a em-

pregabilidade está estabilizada, criam-

se vagas de emprego com menor

complexidade, exigência menor de

currículo e, consequentemente, me-

nor remuneração – o que podemos

chamar da vaga destinada ao primeiro

emprego. Só que na fase atual, pessoas

desempregadas, com idade mais

avançada e maior experiência, se pre-

dispõem a ocupar essas vagas e aca-

bam tirando-as do jovem. Ou, muitas

vezes, o arrimo de família fica desem-

pregado, daí o jovem parte para o

mercado de trabalho embusca de aju-

da para amanutenção do lar. Esses são

alguns de muitos exemplos que ilus-

trambemo quanto o desemprego im-

pacta a juventude.

Qual a atuação doMTE frente a es-

sa questão?

Planejamos ações diretas para reverter

a situação e tentar proteger mais o jo-

vem do impacto do desemprego, e ao

mesmo tempo estimular para que não

haja evasão da escola regular, até por-

que sabemos que no final desse ciclo

de ensino as chances de serem inseri-

dos no mercado de trabalho são bem

maiores tranquilizadores.

A aprendizagem tem contribuído

para amenizar esse quadro

?

Sem dúvida. A aprendizagem profis-

sional é uma grande ferramenta que o

país possui para valorização do jovem

e intermediação entre uma vida de es-

tudos e uma vida profissional. Não é

um programa de governo. Ela é uma

legislação e tem uma linha temporal

interessante, que passa por vários go-

vernos. A Lei da Aprendizagem é de

2000, foi regulamentada em2005 e até

hoje falamos nela. Estamos dispen-

sando o máximo de esforço no fo-

mento à aprendizagem profissional,

mas com olhar crítico, para que não

nos percamos na linha de conforto.

Tenho estudado muito os dados dos

últimos dez anos e me debruçado so-

bre o que aconteceu nessa década, pa-

ra que nós, como responsáveis por

políticas públicas, possamos otimizar

os dados da aprendizagem.

O que aconteceu nessa década de

aprendizagem?

A aprendizagem tem crescido grada-

tivamente e em nenhum momento

retrocedeu. Isso nos faz refletir sobre

a maturidade que as empresas estão

alcançando ao enxergar a aprendiza-

gem como uma ferramenta de busca

e de formação da sua mão de obra.

Esse estudo também mostra que

hámais aprendizes emáreas admi-

nistrativas?

Existemcerca de 2,6mil CBOs (Clas-

sificação Brasileira de Ocupações) e

contabilizamos 55% dos aprendizes

na área administrativa, índice alto

nesse universo de possibilidades. Tal-

vez esse seja o caminho da desmisti-

ficação, porque o empresário, às ve-

zes, pode estar utilizando a aprendi-

zagem não em consonância com a

atividade fimda sua empresa, mas pa-

ra cumprir cota. Claro que a área ad-

ministrativa é relevante, mas ter esse

grande percentual numa só atividade

é interessante para o Brasil? Não es-

tamos enxergando ciência, tecnolo-

gia, cultura, áreas de conhecimento

estratégico para que possamos cres-

cer enquanto país e aomesmo tempo

gerar empatia na juventude.

Qual omaior desafio doMTEhoje?

É convencer a empresa de que a

aprendizagem não é custo, é investi-

mento. Esse é o maior desafio, sobre-

tudo no momento em que enfrenta-

mos uma crise nunca vista antes e no

qual as empresas, às vezes, se sentem

sobrecarregadas. Mas quando para-

mos para conversar e dialogar comos

setores produtivos, o que temos feito

muito, essa visão começa a mudar.

Criar novos arcos ocupacionais é

uma das estratégias para fomentar

a aprendizagem?

Estamos ocupados em analisar o pe-

ríodo anterior à nossa gestão para

tentar direcionar a aprendizagempa-

ra a demanda do mercado de traba-

lho. Mesmo em crise, hoje com mais

de 12 milhões de desempregados, te-

mos setores produtivos em aqueci-

mento, com déficit de mão de obra,

como, por exemplo, a tecnologia da

informação. Quando falamos de TI,

estamos falando de empatia como jo-

vem, da linguagemque eles falamho-

je, de fomentar a aprendizagem não

só como direcionamento para omer-

cado futuro de trabalho, mas também

tendo a intenção de atrair o jovempa-

ra aquela modalidade de capacitação.

Temos, ainda, o exemplo do agrone-

gócio, atividade que em tempos de

crise possui grande importância da

sustentabilidade do país e é um setor

Fotos: Servfoto

CIEE | Agitação

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Notamos

que a

aprendizagem

tem crescido

gradativamente

e em nenhum

momento

retrocedeu.