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mesma coisa; com foco no estágio e na fiscalização, desenvolve
vários projetos, sempre com gratuidade e voltados a pessoas de
vulnerabilidade social’, diz Ivette Senise Ferreira, vice-presiden-
te da OAB/SP e conselheira do CIEE. “O advogado funciona de
forma profissional e é remunerado; assim, grande parcela da
população que ficava desprotegida porque não poderia pagar
recebe orientação de qualidade, e o CIEE nos dá grande ajuda
com esse objetivo”, destaca. Criado em2008, o Projur já prestou
mais de 15 mil atendimentos, nas áreas civil, trabalhista, de fa-
mília, do consumidor, previdenciária, etc. “Às vezes são orien-
tações simples, como fazer um cálculo trabalhista, que resolve-
mos aqui mesmo, semprecisar encaminhar a outras instâncias”,
explica Daniel Albuquerque, advogado do CIEE que coordena
as atividades no Projur. “Temos muitos casos de quem utilizou
os serviços e voltou ou indicou para outras pessoas”, completa,
comprovando a solidez do projeto.
Marina Souza Moraes se enquadra nesse perfil. Há seis me-
ses, procurou orientação para mover uma ação contra ummé-
dico, autor do procedimento cirúrgico que comprometeu os
movimentos de uma das suas mãos, levando-a à aposentadoria,
já que não poderia mais trabalhar como empregada domésti-
ca. Em julho, Marina teve novos problemas. Dessa vez, com
uma empresa de telefonia móvel, que resultou na negativação
indevida de seu nome por órgãos de proteção ao crédito. “Fui
orientada a ir ao Juizado Especial Cível, onde resolvi tudo e se-
rei indenizada pela operadora”, conta a consulente. “Se tivesse
que dar uma nota ao Projur, seria 10, pois nas duas vezes, fui
muito bem atendida.”
“Muita gente acha difícil conciliar estudo e trabalho. Eu, ao contrário, tive muito incentivo dos instrutores
do CIEE e dos chefes do Sicoob (Sistemas de Cooperativas do Brasil - Confederação) onde sou aprendiz. Me
desenvolvi bastante e consegui passar em quinto lugar no vestibular da Universidade de Brasília, para cursar
matemática”. O depoimento é de
Zaqueu Ferreira
, 17 anos, morador de Ceilândia, cidade satélite de
Brasília. Ele prestou o vestibular no primeiro semestre do ano e ganhou na Justiça o direito de ingressar na
universidade em agosto, antes de concluir o terceiro ano do ensino médio no Centro Educacional
14. Vive com um irmão menor e com a mãe, que sustenta a casa com a pensão do pai e com o
aluguel de um barraco construído nos fundos do terreno. Dos 20 netos da família, só três
ingressaram na faculdade; dois deles estudaram em escolas particulares e Zaqueu, na rede
pública.“Por isso, eu acredito que quando se tem foco, não precisa de nada sofisticado,mas,
sim, de oportunidade”, diz. Aprendiz da área administrativa, confessa gostar e ter facilidade
de lidar com números. Isso até lhe garante uma renda extra, além do salário de aprendiz,
pois, até o momento desta entrevista, participava de um projeto de monitoria da escola onde
estudava e ministrava aulas de matemática para garotos da comunidade. “Futuramente,
quero trabalhar na área da educação e colaborar para um Brasil diferente”, destaca.
Ao que tudo indica, Zaqueu terá uma carreira promissora, considerando a escassez de
professores nessa área no país.
Apoio à diversidade.
Respeito às diferenças e crença
no potencial das pessoas com deficiência é uma das ban-
deiras que o CIEE empunha há 15 anos. Nesse período,
foi responsável pela conquista, por 12 mil pessoas, de
contratos de estágio ou de emprego. O Programa CIEE
de Pessoas com Deficiência, além de encaminhar para
o mercado de trabalho, oferece todo apoio às empresas
interessadas na contratação, seja com esclarecimentos da
lei, orientação sobre adequações de acessibilidade, pa-
lestras de sensibilização de gestores e funcionários. Esse
trabalho de sensibilização tem atraído até órgãos públicos
para a causa. ACâmara Municipal de São Paulo é um dos
exemplos. Desde 2007, mantém jovem com deficiência
intelectual no seu programa de estágio. Hoje, 12 integram
o quadro. Uma das reclamações frequentes das empresas
que têm cotas de contratação para cumprir é a falta de
qualificação de pessoas com deficiência para alguns pos-
tos de trabalho. Um dos caminhos, que tem tido aceita-
ção positiva, é a contratação por intermédio do progra-
ma Aprendiz Legal. Exemplo é o programa da Empresa
Brasileira de Aeronáutica (Embraer), que formou a sua
segunda turma, composta de 65 aprendizes deficientes.
Toda a etapa de formação contou com a parceria do
programa Aprendiz Legal, mantido pelo CIEE em con-
junto com a Fundação Roberto Marinho (ver pág. 24).
Atualmente, o CIEE mantém 4,2 mil pessoas com defi-
ciência em programas de estágio de 490 empresas parcei-
ras e 337 aprendizes em 126 organizações no Brasil.
De aprendiz a matemático
Edgar Marras
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