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agruras da esposa Maria Elisa, que há 12 anos não anda
e não enxerga, vítima de uma doença degenerativa. É
ela quem rende elogios à Embraer na figura de Cleide
ShisueMatsumuraMuto, uma espécie de madrinha dos
aprendizes, que atua no setor de Segurança do Trabalho
e Saúde Ocupacional: “Ela encontrou o lugar perfeito
para Maria Gabriela, totalmente adaptado e com pes-
soas preparadas: foi muito bom para minha filha ter
convivido com pessoas de fora, é um passo importante
para o desenvolvimento dela.”
Tradição em capacitação.
A Embraer de fato
envidou todo o esforço necessário para desenvolver um
dos mais efetivos programas de inclusão de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho, a começar pela es-
colha dos parceiros. “Conheço o CIEE dos meus tem-
pos de estudante de engenharia: meu primeiro contato
com o mercado de trabalho foi por intermédio da en-
tidade, que me inseriu em estágio. O papel de integrar
empresas e entidades de educação desempenhado pelo
CIEE é fundamental”, relata o vice-presidente Aveiro. O
sucesso dessa missão mantida há recém-completos 50
anos era visível na história de cada um dos formandos.
“Estou em processo de ser contratado pela Embraer
como técnico de qualidade”, comemora Alison Arnon
da Silva Santos, de 23 anos. Ele foi um dos oradores da
formatura e detalhou os conhecimentos adquiridos du-
rante o programa de capacitação: teve até contato com
o centro de realidade virtual em que a Embraer projeta
os aviões antes da montagem. Mais do que experiências
Maria Elisa e Maria
Gabriela: mãe e filha unidas
contra o preconceito sobre
pessoas com deficiência.
O alento surge da velha máxima de que para toda regra
há exceções. A discussão acima surgiu entre gestores de
recursos humanos, coordenadores pedagógicos e instruto-
res sem deficiência poucas horas antes de uma solenidade
que celebraria a importância de ações afirmativas. No final
de julho, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer)
formou a segunda turma do Programa Embraer Na Rota
da Diversidade, entregando ao mercado de trabalho 65
aprendizes deficientes. Os jovens, todos beneficiados pelo
Aprendiz Legal – mantido pelo CIEE em parceria com a
Fundação Roberto Marinho – e pelo Programa CIEE de
Pessoas comDeficiência (PCD), foram capacitados durante
um ano com aulas no Senai e no CIEE. No segundo ano de
treinamento, eles deixaram o Senai para passar quatro dias
da semana em atividades práticas na empresa e, no quinto,
frequentar aulas teóricas ministradas por instrutoras.
Desenvolver e melhorar.
“A empresa é obriga-
da a atender à legislação, mas, além disso, em termos de
sustentabilidade social, sabemos que temos de participar
da comunidade em que estamos inseridos, desenvolven-
do e melhorando as pessoas”, afirma Maurício Rodrigues
Aveiro, vice-presidente de Pessoas da Embraer. Aveiro faz
referência tanto à Lei 8.213/1991, que determina a contra-
tação de pessoas com deficiência para preencher cotas, e
a Lei 10.097/2000, que tem a mesma determinação, mas é
voltada a jovens entre 14 e 24 anos sem experiência pro-
fissional, categorizados como aprendizes. A Embraer, por-
tanto, descobriu uma forma de exercitar a responsabilidade
social em dose dupla.
Durante a solenidade realizada na Câmara
Municipal de São José dos Campos/SP, os
formandos ganharam certificados que com-
provam a formação profissional adquirida
durante o programa. O encontro foi pon-
tuado por momentos de sensibilidade e, por
vezes, até mesmo de desabafo. “Sinto que o
preconceito contra um deficiente mental é
maior do que contra pessoas que têm uma
limitação física”, relata Edival Marciano, o pai
da aprendizMaria Gabriela, a única autista do
grupo. Ele acompanha de perto também as
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