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Seminá

As fragilidades da educação brasileira ocuparam boa

parte da análise dos especialistas que participaram do se-

minário, unânimes na defesa de uma urgente e profunda

reforma do ensino, em especial no nível médio. No centro

das críticas: o engessamento do currículo, o excesso de dis-

ciplinas e a falta de liberdade de gerenciamento das escolas.

As saídas apontadas: oferecer matérias eletivas além das

obrigatórias, para que os alunos possam focar os estudos

nas áreas de maior interesse. Para Júlio Gregório, secretário

de Educação do Distrito Federal, as propostas de reforma

em tramitação no Congresso Nacional sequer conseguem

melhorar o que é feito hoje no ensino médio, engessado

pela exigência de ensinar 13 disciplinas. “É impossível de-

senvolver qualquer projeto pedagógico com alguma criati-

vidade, pois estamos amordaçados por um currículo dessa

dimensão”, afirma, com base numa experiência de 35 anos

em gestão e professor do ensino médio. Ele acredita que a

flexibilização do currículo, dando oportunidade para que

as escolas desenvolvam propostas pedagógicas mais ade-

quadas à sua realidade, é um dos passos para tornar mais

produtivas as relações das escolas com “instituições bri-

lhantes como o CIEE”.

“Não dá mais para ficar

decorando conceitos antigos

e tecnicalidades, porque o

mundo está em mutação”

Paulo Nathanael Pereira de Souza

,

presidente emérito do CIEE

“Eu falo o contrário de muitos:

por favor, não regulamentem

a autonomia das universidades”

Ivan Camargo

,

reitor da Universidade de Brasília

Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente emérito do

CIEE e ex-presidente do Conselho Federal de Educação,

também é crítico em relação aos atuais conteúdos. “Dadas

as transformações que a ciência trouxe, não dá mais para

ficar decorando conceitos antigos e tecnicalidades, porque

o mundo está em mutação permanente.” Também Ivan

Camargo, reitor da Universidade de Brasília, manifestou

preocupação com o engessamento dos currículos. “Há

quem batalhe por uma lei para regulamentar a autonomia

das universidades, que já tem garantia constitucional”, lem-

bra. “Eu falo o contrário: por favor, não regulamentem.” Ele

avalia que as universidades públicas enfrentam graves pro-

blemas de governança e de financiamento, que precisam

ser debatidos e solucionados.

“Os grandes problemas da

educação poderiam ser

enfrentados com mudanças

de custo praticamente zero”

Claudio Moura Castro

,

pesquisador e articulista

“Os alunos das nossas elites obtêm resultados piores do

que os filhos dos operários na Europa”, afirmou Claudio de

Moura Castro, articulista da revista Veja especializado em

educação. Ele lembrou que, além das apontadas deficiên-

cias do ciclo, o número de matrículas no ensino médio está

longe de atingir o atendimento universal da população de

15 a 18 anos, e os que estão na escola saem sem dominar

os conteúdos básicos, como português e matemática – o

que as péssimas avaliações nacionais e internacionais com-

provam. Há caminhos simples que podem conduzir a uma

sensível melhora na qualidade da educação, mas todos pas-

sam pela pressão da sociedade e pelo empenho das auto-

ridades e congressistas. As deficiências do ensino médio,

assim como os problemas de gestão escolar e de formação

dos professores, poderiam ser enfrentados com mudanças

de custo praticamente zero.

A gestão escolar melhoraria com adoção de metas claras,

definidas a partir das prioridades da escola, desde que to-

dos – do porteiro ao diretor – compartilhassem dos objeti-

vos. Com relação à carreira de docente, afirmou que, além

de não ser mais atraente, sofre com o mau recrutamento.

“O bom professor reúne uma série de características, entre